terça-feira, 24 de abril de 2012

Festa na fazenda!

Dá licença aqui, mas pra mim um lugar que foi berço de Carlos Gomes e Inesita Barroso desperta muito mais atenção do que aquela antiga capital,  cujo o principal teatro leva o nome da mãe da Bethânia. Foda-se que eles tenham servidores públicos medalhões da poesia e, portanto, mais conchavo pra conseguir que um edital financie um doc do Baêa. Ninguém aqui é Bobô e tá todo mundo Careca de saber que não há derbi que resista ao fato da Ivete torcer pra um dos dois times.

Informativo distribuído nos anos 1970, em Campinas
Só perdendo em primaveras pro clássico vovô, Ponte e Guarani é um embate igualmente dialético. Por uma simples razão: são torcidas que escolheram seus times e não o fizeram com a inércia de quem vê o domingão do Faustão. A Ponte, por exemplo, é mais antiga que qualquer time da capital paulista, de um tempo onde torcer por um time era uma escolha tão livre, quanto gostar ou não de frescobol.

De lá pra cá, muita água passou  por debaixo da – não, dessa vez não vou fazer trocadilho – ponte. Os times da capital ganharam tudo, o Guarani surgiu e conseguiu mais glória que a macaca. Mas em Campinas – agora é com vocês, o trocadilho – o buraco é mais embaixo. Como disse a coisa lá é dialética. Com duzentos mil favelados e duzentos mil abastados a última coisa que define o clube de um campineiro são as glórias. Quem as quiser, que vá procurar em SP.

Claro que há muita gente com dois times lá na Princesinha do Oeste, muitos simpatizantes (mas até aí nada difere do Cruzeiro, do São Paulo e do Fluminense), mas há quem realmente torça – só – por Ponte e Guarani.

Imagine, imaginário leitor, o que sentirão estes no próximo sábado. Quando justo no centenário do Derbi, as duas equipas disputarão uma vaga na final no TUCANÃO 2012. É, não dá pra imaginar. Principalmente se você acha que clássico é aquela coisa narrada pelo Luiz Roberto ou Cléber Machado.

Sempre que ia pra Campinas, achava a cidade meio parecida com as metrópoles do Neorealismo do Oriente Médio (infinitos interioranos, condomínios de mau gosto e animais na pista). Imaginava um roteiro e achava que o final deveria envolver um derbi local, excepcionalmente importante.

“Nunca um Ponte e Guarani valerá alguma coisa”, eu me dizia. Esquecendo-me que o futebol é feito da matéria que constituem os sonhos; o desejo pecuniário de alguns e obsessão elíptica de outros tantos.

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