Informativo distribuído nos anos 1970, em Campinas |
Só perdendo em primaveras pro clássico vovô, Ponte e Guarani é um embate
igualmente dialético. Por uma simples razão: são torcidas que escolheram seus
times e não o fizeram com a inércia de quem vê o domingão do Faustão. A Ponte,
por exemplo, é mais antiga que qualquer time da capital paulista, de um tempo
onde torcer por um time era uma escolha tão livre, quanto gostar ou não de
frescobol.
De lá pra cá, muita água passou por debaixo da – não, dessa
vez não vou fazer trocadilho – ponte. Os times da capital ganharam tudo, o
Guarani surgiu e conseguiu mais glória que a macaca. Mas em Campinas – agora é
com vocês, o trocadilho – o buraco é mais embaixo. Como disse a
coisa lá é dialética. Com duzentos mil favelados e duzentos mil abastados a
última coisa que define o clube de um campineiro são as glórias. Quem as
quiser, que vá procurar em SP.
Claro que há muita gente com dois times lá na Princesinha do Oeste,
muitos simpatizantes (mas até aí nada difere do Cruzeiro, do São Paulo e do
Fluminense), mas há quem realmente torça – só – por Ponte e Guarani.
Imagine, imaginário leitor, o que sentirão estes no próximo sábado.
Quando justo no centenário do Derbi, as duas equipas disputarão uma vaga na
final no TUCANÃO 2012. É, não dá pra imaginar. Principalmente se você acha que
clássico é aquela coisa narrada pelo Luiz Roberto ou Cléber Machado.
Sempre que ia pra Campinas, achava a cidade meio parecida com as
metrópoles do Neorealismo do Oriente Médio (infinitos interioranos, condomínios
de mau gosto e animais na pista). Imaginava um roteiro e achava que
o final deveria envolver um derbi local, excepcionalmente importante.
“Nunca um Ponte e Guarani valerá alguma coisa”, eu me dizia.
Esquecendo-me que o futebol é feito da matéria que constituem os sonhos; o desejo
pecuniário de alguns e obsessão elíptica de outros tantos.
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