quinta-feira, 31 de maio de 2012

Você finja que me ama, e eu, idiota, acredito


Porto Alegre ri


Quem nunca? Quem nunca se cansou de um antigo amor e foi procurar novas aventuras? Quem nunca foi esculachado pela ex por isso? Quem nunca, pra provocar a ex, jurou amor pelo atual fuck buddy (créditos pra PRIMEIRA DAMA)? E quem nunca mandou a fuck buddy plantar batatas, quando esta lhe pediu amor, rosas e café na cama? Foi só isso. Nada que não conste nos manuais de amor da adolescência.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A bola é destino


o difícil sempre foi repetir a dose

"Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho." (Carlos Drummond de Andrade)

Há cinquenta anos o Brasil, atual campeão do mundo, começava a marcha contra a  sua própria síndrome de vira-lata. Começava a construir sua hegemonia e, com quatro copas de atraso, virar o país do futebol. Sem Pelé, sem Romário ou Ronaldo. Apenas com um Neymar cujo maior feito foi nos ensinar que é melhor morre afogado na cachaça do que virar um Ronaldinho ou um Kaká.

Se foi bom, ou se foi melhor? Não sei. A poesia era um troço que existia antigamente e não servia pra nada, muito embora, quase sempre, causasse encanto. O Brasil era, naquele ano, dez trovadores e um poeta. Alcoólatra? Ora, isso é redundância desde aquele poeta que bebia por quatro heterônimos.

sábado, 26 de maio de 2012

prosinha para flamengo e inter


Se o futebol, existe, ou seja se a gente acredita que o futebol ainda é o futebol, mesmo diante a coisa toda que é o futebol, por que não dizer que este é um dos momentos mais críticos ao que os teóricos chamam de política e a televisão, espetáculo. A pixotada do zagueiro do Inter nesta noite, coisa tenebrosa, fez com que o filho que à casa tornou estivesse no ataque para raçudamente conquistar o pênalti. Eis que então quem se apronta para o tiro decisivo é nada menos que o maior ícone pop do Rio de Janeiro, contestadíssimo, torcida irritada, irmão barraqueiro e tudo o mais que rege o inferno para quem está diante da coisa toda que é o futebol. Ele corre para balançar a cal, e a bola entra decisivamente no gol. Ao correr para os fotógrafos à margem esquerda do Roubado Havelange, no coração do Engenho Novo, com ele está a benevolência de um Vagner, forte e negro, a dizer ao povo que aquele homem merecia ser respeitado, feito que como é comumente sabido, a propaganda sempre é algo entre a moral e o dinheiro; ademais, aquele rabo de cavalo e aqueles dentes são, acima do céu, da terra e de todas as coisas que os teóricos chamam insensatez e os cidadãos, tudo menos amor, a índole da coisa toda que é o futebol.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

vai meu irmão, pega esse avião



o Pintassilgo

O pecado de Adão foi ter comido uma maçã e não uma romã. Pois assim, omitiu-se da mitlogia o Deus xará das copas, volta e meia tratado como Riquelme. Um ser superior, que em meio à carnificina ansiosa e descontrolada dos mortais, saca o seu relógio e com a calma de um Clint Estwood em um far-west, após uma breve consulta ao pluviômetro, solta a pelota: um Pintassilgo libertado do cativeiro em seu mais pleno vôo. À direita do Rio da Prata é por onde correm as veredas das melhores margens, como um exército que marcha unido adelante: as desbravações de uma América pobre de economia e rica de soberba, por onde cairão todos os que ousaram duvidar dos xeneizes, por desonra aos seus ídolos, a começar por Thiago Neves.

Enquanto São Paulo amaciava a voz de São Jorge (parafraseando um homem morto):
Tinha um Paulinho no meio da área 
No meio da área tinha um Paulinho


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Futebol na novela: ou um pretexto para discutir o lugar do homem neste discurso


(Para quem não assite a novela e não sabe do que estou falando, meus sentimentos. Corram atrás como eu faço com os jogos de futebol que não vi e que vocês comentam. ) 
tentações ou simulacros

Mesmo quando seu time perde é possivel dizer que foi um bom jogo?

Pergunta que com certeza divide opiniões, está na base da complexidade do que se espera de uma partida: o processo ou o resultado. Mas de fato esta oposição não se sustenta, pois a felicidade maior consiste na equivalencia dos termos, ou seja: processo e resultado favoráveis.

Assim também com as novelas. Ouvimos dizer que o resultadode uma novela importa pouco, já que é sempre o mesmo. O diferencial seria o percurso. Mas estranhamente, também dizem que este é sempre o mesmo. E de fato muito autores conseguem esta, digamos, proeza, de fazer o mesmo de muitas e muitas formas iguais que parecem ser diferentes.

Porém Avenida Brasil, sendo novela e, portanto, seguindo determinados padrões de forma, tema e estereótipo, tem surpreendido pela inovação também nas formas, temas e estereótipos. É, por exemplo, um novela que desestrutura a relação costumeira do lugar da elite (um estereótipo de elite) e da população (com seus inumeráveis estereótipos) na trama, deslocando aqueles para o núcleo “comédia” que normalmente é atribuido a estes últimos. Ou seja, vemos no horário nobre que os “assuntos de elite” podem ser tratados como menores e pouco substanciais, como sempre se trata os assustos da não elite. Para isso acontecer basta... alguém QUERER. Porque, nos lembremos, novelas são escritas e a escrita é fruto de um desejo (seja ele pessoal ou coletivo) e não de uma natureza. As “verdades” que a novela diz não brotam nas árvores, mas do pensamento humano e seu desejo de manipular ideias.

Mas o que é que a novela tem a ver com o futebol, vocês devem estar, irados, se perguntando. Nesse caso a relação se dá justamente porque a novela  traz um núcleo inteiro de personagens envolvidos com a realidade do futebol (digamos assim, a realidade do futebol menos o jogo, rsrsrsrsr): jogadores, técnicos, empresários e... periguetes.

Este núcleo tem uma quantidade tão grande de personagens e universos que mereceria inumeráveis posts de análise, mas vou me limitar a um só personagem, um jogador de futebol, e sua relação com a sexualiadade através de outra personagem. Falo de Roni e Suelen.

A complexidade com que vem se tratando a maior parte dos persanoagens da trama consiste em não reduzi-los a dicotomias. A vantagem disso é que os personagens passam a abrir mais reflexões. Assim, se Roni nunca deu bola para Suelen, inclusive se constituído como opositor crítico às ações e abusos desta personagem, a meu ver, até então, era um traço bastante interssante. Não que eu me oponha ao personagem da periguete, ao contrário. Mas justamente porque este traço demonstrava um ponto dialógico da trama: dar voz à possibilidade de existirem homens com diferentes desejos. Tratava-se de pensar que a trama estava trabalhando com um lugar muito delicado da nossa cultura que é o masculino.

O masculino tem sido discutido sempre que a homossexulaidade vem em cena nas novelas, e nós vamos chegar lá. Mas queria antes pensar o lugar do homem heterosexual e na falta de problematização do seu desejo. O homem heterossexual da novela normalmente é intocado em relação às variações do seu sentir. Essa planificação do masculino é, em parte, reflexo e reafirmação de nosso machismo cultural. É ele que dita que homens precisam agir sempre da mesma forma que os outros para serem homens, como na velha e estereotipada frase “os homens são todos iguais”. O que deixa de ser discutido com isso é o fato de que não são.

Que exista o desejo por mulheres como a Suelen isso é absolutamente legítimo. Eu mesma seria muito menos capaz de deslegitimar a figura desta mulher que muitos homens heterosexuais dizem adorar, mas não sabem respeitar. Porém, que TODOS os homens tenham que amar esta mulher, pois essa é a única face da libido masculina, parece-me índice claro de que algo da complexidade e da sutileza se perdeu. Num país em que a defesa à diversidade sexual gera manisfestações desesperadas de “orgulho hétero”, talvez seja o caso de começarmos a pensar sim no heterosexual, mas na defesa à diversidade de desejos também para a heterossexualidade.

Voltando à novela, temos sim uma diversidade de caráteres masculinos: um Jorginho, que ama duas mulheres diferentes; ou um Cadinho, que ama três; um personagem que finge de doente para chantagear a mulher amada; outro que demonstra paixão verdadeira a uma mulher muito mais velha. É verdade, a variedade existe, mas a construção do personagem Roni dizia até então de um lgar totalmente marginal ao pensamento comum: um adulto que não manifestava qualquer sexualidade. Preservar este lugar era, a meu ver, uma riqueza no que tange à dar voz às diversidades. Ainda mais nesse núcleo do futebol; sendo este esporte, em nossa cultura, constantemente atrelado ao sexo e, sobretudo, à imagem padrão do “macho”.

Roni era, portanto, um jogador de futebol heterosexual que se diferenciava do padrão do machão. Mas é exatamente o padrão do machão que dita que todos os homens são iguais e que aqueles que são diferentes são gays. Esse padrão, claro, vê a homossexualidade de forma preconceituosa e desrespeitosa; mas gostaria que com este meu texto viéssemos a refletir que o discurso do machão (ou sua ideologia) também não admite a variedade dentro da heterosexualidade. Daí que a possivel “homossexualidade” de Roni tem seu lado negativo por impedir a realização de um personagem com sentires do masculino não padrão. Mas como a novela é boa e o é justamente por ser complexa, esta posssibilidade também será inovadora, pois nos permitirá discuitir o tabu da homossexualidade dos jogadores de futebol. Mas isso será assunto de outro post.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

E um dia/ Sob o cetim do Azul e as andorinhas/ Eu hei-de ver errar, alucinadas./ E arrastando farrapos – as rainhas!


Johns Terry Wayne, a rainha tá ciscando

Eu poderia começar dizendo que pênalti drog(b)ado não entra. Mas nessa hora eu já sabia que o pessoal saxônico, não estava à altura mesmo dos piores trocadilhos. Nada tirava da minha cabeça a idéia fazer um texto desdenhando da final da LIGA - que na verdade é uma COPA – com uma narrativa dispersa que omitiria o final, já que um suposto eu-lírico teria ido esticar as canelas na rede, observar coqueiros e  chupar uma carambola. E, assim, não teria visto os penais. Eu o faria, com toda certeza. Mas minhas veias saturadas de OVO y BACON, não deixaram.

Na vitrola rodava um Enio Morricone e eu mesmo com preferências bavárias, me impressionava com as semelhanças entre os JHONS Terry e Wayne. Isso parecia ser o mais interessante a se fazer naquele primeiro tempo em que até meu bonsai de plástico sabia que terminaria ZEROAZERO.

No segundo tempo, nada de novo. A não ser que o disco do Morricone acabou e Galvão Bueno passou  a ser ouvido. Agora, eu tinha pra quem NÃO torcer na PELADA. Nessa, o chelsea empatou e me empolguei até BROCHAR, com um pênalti só marcado no fantástico mundo do PES em que ninguém acrediu o juiz, invadiu o campo, ou pisoteou o adversário.

Realmente o melhor a fazer era me render ao cochilo e mascar uma digestiva Jabuticaba. ATÉ QUE, um jogador do Chelsea caiu, os pequenos adolfos não pararam, foram ao ataque e por uma questão uma dose de Jagmaster a bola não entrou. PRONTO, os alemães tinham comprido o devir histórico de serem mais filhas da puta que a filhadaputagem e, claro, como sempre acontece – tal qual os russos, nos blockbusters da guerra fria – se foderiam no final. E o pior, nas mãos – ou melhor, nos pés - de um TIZIU.

O resto,  senhores, você já sabem. As tropas do Terceiro Reich avançaram deslumbradas com a iminente vitória e quando viram estavam cercadas sem a possibilidade de recuo. John Wayne Terry teria matados todos eles enquanto palitava as Unhas, se final tivesse sido no novo México. Mas como o cenário era Munique, para deleite dos seguidores de SYD FIELD, um AFRICANO daria números finais à peleja.

Alguns dos locais dirão que foi cousa do BOI ZEBU. Eu, no entanto, direi que a bola pune, principalmente certos  protagonistas de péssimos trocadilhos.

 heut ist ein neuer tag [hoje é um novo dia]

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Os druguis* do Chelsea


Schweinsteiger, meio-campo do Bayern
A Clockwork Orange não somente tornou-se um dos principais escritos do século XX pela surpresa de um romance todo esculpido pela linguagem rueira de trombadinhas, recém-saídos da infância, que aterrorizavam a população de uma grande cidade inglesa. Muito se deve a aura da obra a Stanley Kubrick, cuja adaptação da laranja mecânica fez um bem danado a Anthony Burgess, pai de Alex.

Burgess criou, ou simplesmente transpôs, para a narrativa uma série de gírias, chamada de língua Nadsat, que tornam incompreensível o entendimento às primeiras páginas, no entanto, como qualquer inserção em uma gíria nova, as costumazes repetições vão tornando as coisas palatáveis, e algumas daquelas palavras se não ganham um tradução direta, ganham um sentido do leitor para a compreensão da cena. Burguess utilizou muitas palavras de origem russa, já que, imagino, no início dos anos 60 (o livro foi lançado em 1962) a Rússia deveria representar o mais under do undergorund entre as grandes cidades da Europa. O Leste seduzia pela revolução e pela tosquice. Falar como um russo, e até mesmo copiar algumas coisas do vestuário e trejeitos, deveria ser foda (ou horrorshow, no dialeto), para um jovem inglês.

Mal sabia Burguess que em Londres, muitos anos depois, o seu dialeto poderia muito bem se tornar a língua oficial do Chelsea. Os blues (sim, eles tem esse genial apelido) foi retirado do ostracismo da Barclays para a final da Champions League. O dono do clube, Roman Abramovich, cuja fortuna é estimada pela Forbes em US$ 14,1 bilhões, também é o dono do CSKA Moscow e do castelo do Conde Drácula, na Romênia. Mais de € 760 milhões foram investidos pelo magnata russo em cinco anos, ele é o mais rico residente de Londres, desde que chegou. Bem, agora sabe-se quanto custa levar um time médio para a final da Liga.

Acontece que índole de Abramovich, assim como a de Alex, Peter e Tosko, é digna de uma lavagem mental. Além do boato de ser ele o homem por trás da Media Sports Investiment, a MSI, sediada em Londres, que trouxe Tevez, Mascherano e o título de campeão brasileiro de 2005 ao Corinthians, o dono do Chelsea é acusado de ter subornado dirigentes soviéticos durante as privatizações das companhias de minério para obter facilidade de compra e operação (e acho que isso foi tão comum que nem é considerado crime pelas agencias internacionais de vigilância), como também de ter traficado diamante de Angola e do desvio de US$ 4,8 bilhões (!) de um empréstimo que o FMI fez à Rússia durante o governo Ieltsen. O que nos leva a crer que o principal clube do futebol inglês hoje teve seu sucesso bancado por um dos maiores filho da puta da economia mundial. A Barclays deveria se envergonhar.

Após a Premier League 2011-2012 ter sido vencida pelo Manchester City, um time bancado pelo Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, fica aqui a pergunta que inicia a laranja de Burguess e acredito que será a primeira coisa que, amanhã, Bastian Schweinsteiger --- vestido de branco, com um chapéu de Chaplin e maquiagem no olhos ---, direcionando seu ódio aos cartolas, falará em campo:

What’s it going to be then, eh?

Muito bem, Abramovich, é em Munique que você vai dormir.

---
*drugui = amigo

quinta-feira, 17 de maio de 2012

André Risível


Prezado estagiário do Mauricio Prado. Mosca do coco do bandido. Sujeito que de tão ridículo é capaz de levar a sério – até achar graça – do Arnaldo Jabour do Sportv. Um polemista que sem talento que só logra falando merda. Indivíduo  que freudianamente curte essa coisa de ser perseguido pelo gagá mais velho. Não fale do Botafogo, isso soa ridículo. É tipo o pessoal do Mahatan Conexion querendo falar sei lá, do Ribaumd. Algo, que como o Botafogo, é existencial demais para caber neste corpo de hemorróidas, cinismo e risadinhas corporativas.

Perdedor pra mim é quem é funcionário do velho marinho. E não é o xilique ou o teatro, que vai fazer de ninguém um vencedor. Havia uma época em que o Botafogo esperneava quando perdia e isso não  dele  campeão do mundo. A frieza senhor risível é o segredo da parada. “A ânsia pelo sucesso, na vida como no sexo, só diminuí as suas chances.”

Mas não vou explicar. Você dos estúdios da GLOBOSAT não sabe o que é um choro do Pixinguinha, uma amendoeira no quintal e, portanto, não está apto para o Botafogo. Aliás, até deve ter recebido o texto mais belo sobre futebol de toda história (Botafogo e eu, do Paulo Mendes Campos), mas não leu. Não foi o titio Renato quem mandou.

André, pela loucura sifilítica do Heleno, pelos dribles incongruentes e alucinados do Garrincha, a ânsia comunista do João, as carreiras do Caju, a tatuagens do Loco Abreu; limpe a boca pra falar do Botafogo. Porque se ele existe, o resto é futebol. E nem desse você entende.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A esperança não morre, adormece

Posso dizer sem medo: é claro que eu sabia que o Botafogo não tinha quase nenhuma chance de ganhar.  Mas, o carinho, no entanto, me impede de dizer com brutalidade: “eu sabia que ele ia perder”. E não é apenas o carinho, o que me impede de fazer tal afirmação é também este sentimento muito difícil de definir: a esperança.

Quando a realidade se impôs mais uma vez, pensei laconicamente: “o Botafogo me ensina num domingo triste que os milagres não existem”.

E pensei em escrever sobre esse sentimento de milagres, apesar de não ter religião que me obrigue a crer ou descrer neles. Refletir sobre a esperança. E nesse querer fui atropelada por um texto deste blog (“Esperança: a nova palavra que a democracia e o Botafogo tornarão vazia”), também sobre a esperança, e meu próprio texto ficou meio perdido diante da vontade de me opor a algumas questões levantadas pelo outro que, como um bom adversário (já que falamos em futebol) gerou em mim um jogo acirrado de ideias.

E então veio este misto do que pensava comigo mesma e da vontade de dialogar:

Acho complicada a aproximação tão rápida entre Hollande, Obama e Lula. Sei que o elo se faria através da esperança, mas me pareceu que ela se perdeu rápido demais e se turvou no meio de qualificações como “nova esquerda sócio-democrata”, “marketing político”, “pai dos pobres”. A coisa se complicou quando à imagem do Loco se aproximou a ideia de “liberalismo de esquerda” e este retornou como um eco daqueles três políticos brutalmente colocados num mesmo saco de gatos.

O que acho é que a política, como o futebol, é campo aberto para discussões que se feitas muito rapidamente acabam sendo descuidadas e deixam tudo aterrado, sem sutileza, sem diferença e, principalmente, sem gosto e sem esperança.

Voltar então a ela, esta palavra feminina, no meio da brutalidade do mundo tradicionalmente tido como masculino do futebol e da política, faz estranhar. E pode mesmo nos levar a crer que se tornará vazia.

Mas nem tanto. Pois o futebol e a política sempre comportaram a esperança com sua feminilidade de saber esperar diante do incerto, do não saber. Um povo com esperanças numa política, um povo que aposta em sua esperança, conta com o desejo e sabe também que é um voto lançado ao desconhecido do futuro. Situação que acomete também o torcedor.

E podemos pensar que a esperança na política, manifesta pela atuação tão pequena da voz ou do voto, em muito se assemelha à participação do torcedor, que grita e se contorce, pela ação que outros executarão por ele. No mais tardar, podemos pensar, somos tão pouco autônomos em relação ao que de fato fazem nossos políticos, quanto em relação ao que faz o nosso time.

Sim, é um modo de ver. Mas se é assim, podemos nos perguntar com razão, por que nos importamos com futebol e com política. E diante desta nossa leitura de ambos, a resposta é simples, porque somos idiotas. Ponto para a depressão, fim da esperança.

Mas não, mais uma vez fomos rápidos demais. Assolando tudo com generalizações aterradoras. E daí, volto a minha vivência e ao desejo que tive de escrever sobre a esperança – que não morreu, foi dormir - no domingo passado.

Tenho observado, pelo que sinto e vejo ao assistir jogos nos estádios ou nos bares: o futebol não é um espetáculo fechado do qual somos impossibilitados de participar. Torcer não é estar passivo, assistindo e nos submetendo enquanto o outro joga por nós. Não, o futebol é o espetáculo em que somos ao mesmo tempo torcedores e cada um dos jogadores do nosso time em ação. O futebol reacende naquele que o vê os sentimentos mais ferozes da batalha – esta batalha que assistimos sem nunca examinarmos conscientemente o quanto ela se assemelha com nossa própria vida. O futebol enfurece como a batalha cotidiana enfurece. Mas durante um jogo, como no espaço da arte, temos lugar para sermos tomados pelo afeto que ele nos provoca, sem vergonha de estarmos entregues ao amor e ao ódio que ele nos causa.  A ação dos jogadores nos permite, em suma, entrar num estado de experiência. Poder, sem falsos pudores, estar inteiros ao que se apresenta a nós. E queremos tudo. Queremos ganhar, mesmo sabendo que estamos diante do incerto e que a perda existirá para alguém.

Sim, não há milagre no futebol, como não há na política ou na vida, no sentido de que nem todo o desejo ou toda competência podem ser suficientes para garantir a conquista do melhor resultado. Porém, a incerteza do porvir não nos afasta do vivido e isto de fato faz valer a pena. Porque o durante existiu e nós existimos nele. Aqui não somos idiotas passivos, marionetes, mas sujeitos dispostos ao prazer e aos perigos do jogo.

Queria escrever no domingo, mas não sabia o que seria escrito. O pensamento às vezes só toma a forma na escrita. O encontro com o texto do Thadeu, o desejo de me atritar ao texto dele, permitiu que este aqui se fizesse. E agora, lembrando que outros dias virão, incertos como sempre, disponíveis ao passe certeiro ou ao lance perdido, penso que o mesmo dia que permitiu ao botafogo apagar minha esperança no milagre (por algumas horas), permitiu ao galo – tão preto e branco quanto nós e com seu próprio histórico de sofrimento – reacender o coração atleticano, desta vez, invicto. Um mesmo dia, incerto e certeiro. A esperança, adormecida ou não, nunca será vazia.

terça-feira, 15 de maio de 2012

nervos de palha-(de)-aço


Em um capítulo do Verdade Tropical, o “Antropofagia”, lançado em separado recentemente pela Penguin-Companhia das Letras, Caetano Veloso conta nos primeiros parágrafos como a relação com os poetas concretos, mais acintosamente nas premissas regidas pelo oswaldianismo, ajudou a definir direções para a Tropicália; em meandros, ele também faz uma diferenciação daquele grupo de intelectuais em relação ao restante dos proeminentes brasileiros com quem Caê passou a conviver nas andanças e moradas por Rio e São Paulo. Destaca, entre outras filosofias e protagonismos, a paixão que Augusto de Campos passou a cultivar por Lupicínio Rodrigues. Augusto, com características pomposas de seu próprio nome, chegou a declarar que o sambista usava o “explosivo do óbvio, da vulgaridade e do lugar comum, atacando de mãos nuas, com todos os clichês da nossa língua, e chegando ao insólito pelo repelido, à informação nova pela redundância, deslocada do seu contexto”. Caetano destaca a canção “Vingança”, onde Lupicínio está realmente bem próximo do sublime para Augusto, o seu mais puro e tenro deleite. No entanto, mais ou menos 15 anos depois de ser escrita, a canção cujos versos diziam
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
se tornaria emblemática para a história de um outro genial compositor: eis a curiosa comparação que Caetano faz a Bob Dylan e sua poesia, concreta pelo peso da realidade, em “Like a rolling stone”. Em resumo, as duas obras, cada qual mais chegado a sua herança de canção urbana, tratam do sujeito em igual situação de desolação, um perdido sem destino, sem saber o rumo de casa.

Reza uma famosa lenda no Rio Grande do Sul que quando Dylan se apresentou no Hollywood Rock, em 1990, foi lhe mostrada a letra de Lupicínio, somada da informação de que aquele homem (negro à exceção, visto que os negros eram, e até certo ponto são, majoritariamente concentrados na torcida do Inter) era também o compositor do hino do Grêmio, cujo verso “até a pé nós iremos” poderia até ser interpretado como uma genial construção anti-industrialização; ou seja, qualquer coisa incomum e popular que Dylan provavelmente simpatizasse. Existem relatos de gremistas que juram ter visto o folkista com a camisa tricolor assistindo a um jogo da arquibancada no antigo estádio do Grêmio, informação esta sem confirmação. Em muitos lugares­ Bob Dylan aparece como “gremista ilustre”, essa palhaçada de torcedor midiático que parece carente por celebridades declarando que gosta de futebol.

Fagner, cearense para o que der e vier
Tanto que, nesses mesmos halls dos honrados, raramente também aparece o nome do autor do hino, este homem que sofreu por todos os outros. Vemos Gisele Bündchen, Fernanda Lima, Raimundo Fagner (!)... e, claro, Bob Dylan. Ah esses moços, pobres moços... Caetano poderia ter dito que Lupicínio convertera Bob Dylan para o lado araçá azul da força; no entanto o baiano não entrou em detalhes que fugissem do seu objetivo: trazer a superfície o "explosivo óbvio" de suas elucubrações, e não a temível "informação nova pela redundância" que a tudo circunda o futebol: esta cultura augusta, por ser ao mesmo tempo a pior dor de cotovelo e a mais elaborada realização do homem versus mundo.

BONUS TRACK:
Muito bom o texto, execeto pelo Fagner, que pra mim e pro Bob Dylan também (eu garanto), tem muito mais a ver com o Dylan do que o Caetano, que não é gremista, é, ao contrário, Fluminense, um time que não vai se quer sem plano de saúde, que dirá a pé 
(João Martins)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pague a série B, ou o Barriga pune.

Até o mais fanático, apaixonado e feliz torcedor do Fluminense há de dar uma risada ao ver a montagem acima, que vem circulando no facebook nas últimas semanas. O sujeito que a fez foi muito espirituoso ao aproveitar a recorrente cena da série Chaves, na qual o abrangente proprietário Senhor Barriga cobrava o pagamento dos 14 meses de aluguel atrasado de um dos seus inquilinos, o Seu Madrugada. Me aproveito dela para ilustrar como torcedor rival se sente em relação à nação tricolor quando o discurso sangue-azul destes invade praias, botequins e restaurantes em horário do almoço, vangloriando-se de alguma recém conquista. Tal qual o querido barrigudo, o torcedor emposta a voz e se dirige ao tricolor:

– Pague a série B!

Para os que não se lembram e não entenderam, vale lembrar que após amargar três rebaixamentos seguidos, dois para a série B e um para a série C, o Fluminense se aproveitou de uma ação judicial do Gama contra a CBF, de um favor do Eurico Miranda, então honestíssimo presidente do Vasco da Gama,  e também da conhecida desorganização institucional do futebol brasileiro para pular da série C de 99 para o módulo azul de 2000, o “grupo” que continha os times da primeira divisão, mais Bahia, Juventude, América/MG, além dos já citados Fluminense e Gama. Um meio de acesso, digamos, um pouco suspeito. Duvidoso, para usar uma palavra que convém ao vocabulário tricolor.

O que aconteceu 12 anos atrás não tira mérito do 31º título estadual conquistado ontem, evidentemente. Mas justifica a cobrança de todos os Senhores Barriga do facebook. Pague a série B, Fluminense, mal não lhe há de fazer. Outros grandes clubes , coincidentemente  alvinegros, do seu estado já fizeram isso. O Vasco em 2009 conseguiu seu acesso da maneira mais honrosa possível: com um título incontestável; o Botafogo (bairro simpático) não foi campeão em 2003, até na série B foi vice!, mas conseguiu sua vaga por direito e sem acordos; e o Campo Grande Atlético Clube, que em 1982 foi campeão da Taça de Prata, venceu a segunda divisão daquele ano. Tenho certeza que o elenco galático montado para esta temporada poderia fazer uma campanha digna na série B e assim tirar uma vergonha do currículo do laranjal. Ou quem sabe no ano que vem? Assim a Unimed ainda econimizaria alguns trocados montando um elenco mais modesto e poderia atender melhor os seus clientes.

Mas o ano que a dívida será paga não interessa. O importante, caros tricolores, é que não se envergonhem de cumprimentar aquela baranga que vocês pegaram em 1999. Nunca é tarde para um telefonema. As feiosas também merecem consideração, ainda que com atraso.

O ano de 2012 pode ser aquele em que o Fluminense tem tudo para alcançar o patamar mundial e se igualar a um Barcelona, na medida em que tem condições de conquistar estado, país, continente e mundo!, mas os Senhores Barrigas de plantão e vossas consciências lembram: Paguem a série B! Porque, ao menos no caso do Fluminense, antes de espelhar no Barcelona, a honra diz que primeiro convém se espelhar no Campusca, o Galo da zona oeste.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

o secador


todo mundo sabe que foi armado

O Homo Academicus introjetado em mim e a talvez sim, talvez não, a influência pedagógica da mãe professora me impedem de começar por outro lugar que não o inicio -- e obrigatoriamente em prosa.

Você se sente ofendido quanto te chamam de secador? Pra mim, é uma honra.

Aprendi a gostar de ver futebol com meu pai, indo ao maraca a partir da segunda metade dos anos 90. O Flamengo montava times com jogadores renomados em fim de carreira, boas revelações e uma porrada de jogadores grosseiros (pelo menos é assim que minha fraca memória foi construída sobre aquele saudoso tempo) , a fase era de escassez de títulos nacionais e internacionais, ou seja, nada me alegrava mais do que ganhar de um rival, ou vê-los fracassar. Nada como ser campeão com gol do craque de um jogo só Rodrigo Mendes, ser Bi com gol de Athirson e Tri com gol do Pet aos 43. Parecido com isso naquela época só gol do Raul driblando o zagueiro do Vasco no Mundial, ou tirar sarro dos tricolores ao ser seguidas vezes rebaixados.

Futebol é disputa, é jogo, é drama. E que infeliz que seria se terminasse quando o juiz apita, pois é ai que começa a outra metade da graça, tirar onda e secar os adversários. Não que eu não conheço a draga politica em que se encontra o meu clube, e o futebol brasileiro como todo. Mas nada melhor do que rir de um rival, quando quase nada se pode fazer pelo seu time, até por esse não estar em campo.

Não sei se isso já virou clichê, mas não tô gozando com o pau dos outros, mas sim rindo de como você vai aparecer assado amanhã!

Uma cutucada com uma frase de um jogador inteligente como Romário, sempre vai valer também. Felicidade rara hoje no futebol Media Training.

Aos que dizem que não secam? Vá assistir peteca! Malditos filhos do politicamente correto, também conhecido como hipocrisia midiática.

O post serve também acabar com o nervosismo da estreia, afinal de contas o time tá coeso e a gente trabalhô forte a semana inteira para isso.

Quem é que quer flores depois de morto? - ou - Respirar é uma doença*



Que me perdoe Sr. Abreu e Mr. Millôr, mas futebol não é só esporte e a vida não é frescobol
Millôr joga bola
Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.
A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
td dia ele fz tdo smpr =
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças. 
O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.
[Sonetilho de verão]
Paulo Henriques Brito em Trovar claro.
*O Primeiro título é do J.D Salinger e o segundo é do Bukowski

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Esperança: a nova palavra que a democracia e o Botafogo tornarão vazia

Tu és o Glorioso, não podes perder, perder pra ninguém
François Hollande muito provavelmente teve aula com a nova esquerda sócio-democrata que infesta os executivos dos governos americanos (americanos mesmo, no sentido de toda a América). A lição: como explorar a esperança no marketing político. Receita de bolo de laranja açucarado, um deleite para classe média amedrontada. O retorno dessa modalidade de pacto entre as lideranças combativas das camadas civis e a representação governamental talvez tenham origem recente na própria França, na eleição de Mitterrand, que esteve no ápice de Paris por 14 anos sem levar para o túmulo o fado de ditador, e Lech Walesa, que subiu ao olimpo polonês junto com o movimento sindical Solidariedade. Por hora, Lula, um fenômeno esquerdo-midiático, presidente do Brasil por oito anos com direito a sucessora e o título de pai dos pobres, além de, mais emblemático, Obama, que fez da palavra hope um dos slogans da campanha.

Todos ascenderam diante de um período em que se viveu a duras penas, quando as pressões econômicas pediam uma flexibilização, um respeito maior aos direitos dos cidadãos frente à competição desenfreada, ou seja, um pedido de não nos puna por sua ganância.

Brizola orgulharia-se de ti
[Perceba a mudança de direção da prosa:] Já o Botafogo, o glorioso, possui em seu elenco o único homem da atualidade futebolística capaz de encarnar o le changemente c’est maintenant de Hollande. Não só por ser loco [em uma sociedade que clama por tais heróis], ao ponto de trazer a alcunha à camisa, mas por trajar os símbolos do liberalismo de esquerda: está cercado de vieses capitalistas porém concentra autenticidade no discurso. Loco é um paladino, e seu clube, enche-se da esperança vazia de um amanhã justo, com títulos distribuídos igualmente, uma derrocada dos mecanismo de soberania da classe majoritária, disposição igualitária de privilégios e justiça fiscal. O Botafogo, um clube originário da elite carioca, entregue ao prazer dos intelectuais, vive o momento atual de crise das instituições de muitos anos de forma contraditória. Vindo do seio da burguesia apanha do domínio burguês das massas mascaradas pela seta ascendente social-democrata. A história coube de lhe conceder o perdão dos sinceros e dos que ainda amam pelo simples exercício de amar, os que ainda se mantém humanos. És então, glorioso, a esperança em preto e branco, sem mas nem porém. Talvez o único ser que personifica o discurso de Hollande, Lula e Obama sem o dizer, quanta honra.

No próximo domingo, e não podemos esquecer que existe uma Vitória no meio do caminho, o Botafogo precisará de três gols de vantagem para levar o jogo aos pênaltis.  O triunfo, para não dizer a necessidade de triunfo, está claro: esperança. E tome bola levantada na área [by Galvão Bueno].

EXTRA:
A esperança nos atuais tempos é um corpo nu de 20 anos balançando na árvore. A liberdade bem-produzida para o recheio de uma revista. [Pâmela Sbruzzi, para a Trip]

segunda-feira, 7 de maio de 2012

romário diria 'esse é peixe'



Neymar parece ser o primeiro craque brasileiro metido, precoce e mimado a realmente jogar bola. O bônus: vai defender o Santos até, no mínimo, 2014, ou seja, gozará da maturidade dos seus 22 anos e as honrarias de príncipe do Brasil, a sexto maior time de futebol do mundo (um time que vale a posição da sua economia, éramos mais felizes quando pobres). Nascido em Mogi das Cruzes, escreve na camisa o Júnior, por uma motivação honrada -- em respeito ao pai --, ou para provar que tal esquisitice não é total interferência da moda de ípsolons e dablios comuns aos nascidos em 90. Apesar de tudo, Neymar não é marrento, não é cai-cai, não é fogo de palha, e estão nesses quesitos os detalhes da revolução, tal que de resto, a fanfarronagem  telózesca de jogador de futebol o acompanha. Como seria bom se Neymar fosse argentino ou alemão. Para chegar a um Neymar, precisamos aturar o Ronaldo, exportado aos 18 anos e sem fôlego para jogar até o fim do que a natureza gentilmente o concedia, Ronaldinho Gaúcho, fadada às volumosas coxas por excesso de pagode, Adriano, um ídolo fora das quatro linhas, e Kaká, que padeceu por rezar demais: acreditar em milagres é diferente de realizá-los. Isto só seria mágico no mundo dos quadrados, e assim ficaram conhecidos. Todos eles, mal ou bem, seguem como filiais do Síndico da CBF; além de Robinho, um craque feito a pedra de Drummond, que só não fez mais gols que Neymar porque [que desperdício de preciosismo] não sabia finalizar [Leão que o diga]. Maior artilheiro depois da era Pelé, um desacato a Chulapa, Giovani e Viola, quatro finais consecutivas do Paulista, prestes a ser tricampeão, e com uma Libertadores debaixo do braço, candidatíssimo ao bi, não vejo a hora do Neymar ir embora. Está ficando sem graça.

domingo, 6 de maio de 2012

Nem o pão o diabo deixou

“Ih o Rio Branco deixou de existir. O Rio Branco deixou de existir”. Diz a lenda que é isso que o vento sopra toda vez que um poços-caldense pisa em Andradas. Em 2009, os azuis foram ao céu ao conquistarem o terceiro campeonato do interior de sua história, em pleno Ronaldão – estádio do maior rival, a Caldense bicampeã do torneio –encaçapando três tentos na casamata do América. O que, como dizia o QOTSA, no one knowsé que um mês depois o mais querido da Mantiqueira (pelo menos é o que eles dizem, digo, diziam) fecharia suas portas.


Na página oficial do clube a última atualização diz respeito a derrota pelo placar simples para o galo no Mineirão pela semi-final do mineiro de 2009, última partida do clube. Nem sequer o resultado da outra semi, que aconteceu duas horas depois está . No perfil da Wikipédia, o clube diz estar de licença. Mas se um time não consta no site só futebol brasil -- onde até o Juventus do Acre tem camisas sendo vendidas – não há eufemismo que impeça de dizer o óbvio; ele não existe mais.


Embora nunca tenha disputado a Série A, nem sido campeão mineiro, feitos que seu maior rival a Caldense conseguiu, o Rio Branco vivia um momento melhor na ocasião de sua falência. Disputava – no sentido estrito da coisa, diferente do que faz o Flamengo na libertadores  - o mineiro, enquanto a veterana de Poços de Caldas escapara do seu segundo rebaixamento (o Rio Branco teve vários) após a volta à elite mineira de onde saíram em 2007. Essa foi provavelmente a maior glória da historia dos andradenses, vale lembrar.


O motivo da falência ninguém sabe, como o clube se dissolveu não há quem ouvir como fonte oficial. Ainda mais se você for um pobre poço-caldense, como yo. Vão achar que é gozação e, claro, não estarão totalmente errados.


Especula-se que a coisa toda aconteceu quando eterno patrocinador da agremiação, uma cerâmica especializada em relicários filosóficos, vulgarmente conhecidas como vasos sanitários decretou bancarrota. Ao contrario do time, a fabricantes de alcatruz conseguiu se reerguer. O que, claro, dá margem pra uma saraivada de piadas e trocadilhos. Mas, o terceiro mandamento desse blog diz: “Não gozarás de times imaginários”.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

entre a trave e o goleiro


Por toda a extensão de um campo de futebol, existe um espaço inexpressivo por onde a esfera passa feito um tiro de canhão. Os 40 minutos do segundo tempo são um tempo outro, um tempo suspenso. O braço esticado do arqueiro é uma tentativa frustrada de impedir a justiça, uma força desavisada de não: daquele dito aos gritos, quando a mão do algoz esbofeteia qualquer ideal que se encaminha para um fim de realidade.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Tão verdes as riquezas de Minas


Placa na entrada do estádio Emílio Ibrahim, em Mariana.

Ao passar a mão por Mariana, no interior de Minas Gerais, é impossível disfarçar uma ereção de felicidade que toma conta do seu espírito. Mariana, oficializado por alcunhar pelo menos 80% das patricinhas; um nome tão comum e banalizado, pode te surpreender. As patricinhas excitam os olhos, isso sim um fato inusitado. A surpresa tem cor, como são as lentes das patys de olhos indígenas: verde.

Lá vive um Guarany. A sede, numa das principais ruas da cidade histórica, guarda um charme ornado pela paz de um lugar comum, exceto o casarão com um belo escudo do Guarany Futebol Clube e a notória data de fundação: 1925. Próximo ao campus da UFOP, onde estão abrigadas a maioria das faculdades de humanas, está o campo muito bem-cuidado a serviço do time da cidade. Um tapete verde como verde é tudo o que governa o Guarany de Mariana. Um clube muitíssimo bem-tratado.

Subindo pelo campus, alguns estudantes montavam o slackline enquanto fumavam maconha no friozinho da serra. O verde, tal o Guarany, parece ser uma unanimidade no Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas da UFOP, visto as pixações de ‘4:20’, ‘cannabis freedom’ e, lógico, ‘Guarany sempre’. Longe da polícia e dos guardinhas de faculdade, não parecia haver a ciência das forças de repressão por aqueles descampados. Uma sensação de inocência.

Mais tarde, um time verde eliminava um time azul com duas vitórias na série de dois jogos das semifinais do Mineiro: 3x2 e 1x2, o gol da certeza, aos 47 do segundo tempo, fez surgir gritos de ‘galo’ pela pracinha da cidade, que naquele dia, estava ocupada por palhaços e músicos em uma caravana circense patrocinada pela Funarte. A atração principal era o aniversário do Dedé Santana  (!).

Com o cair da tarde, a neblina densa desce e ocupa toda a serra. Já em Ouro Preto, a sensação de que o Guarany representava um clube de futebol como nos velhos tempos parece mesmo uma constatação factual. Não há site oficial. Não há, pelo menos na primeira página do Google, informações sobre a situação atual do time. Que andam fazendo por aquela sede, por aquele belo campo de futebol? Uma outra curiosidade: o escudo é idêntico ao finalista do Paulistão, fundado em 1911, porém a data de nascimento dos clubes é tão próxima que me deixou a dúvida 'quem copiou quem?' Eu me recordo de haver Guarani disputando a primeira divisão do Campeonato Mineiro até recentemente, mas infelizmente, não era o mariano.

Não há dúvidas que Mariana é excelente para foder. Friozinho, cachaça e queijos, que Mari resistiria? E, acima de todas as Marianas que deitaram em nossos leitos, feito uma esmeralda talhada por um bom artesão: que o campeão seja o verde do América, dentro do Independência. (Por tal sapiência, ao dizer, o frio da serra também arrancava fumaça da minha boca -- e por permissão concedida, ferreava meus olhos até deixá-los bem vermelhos.)

Gandula a gente faz em casa


Sonja


Desde que o São Paulo colocou pra jogo um certo volante-meio-lateral-mal-assumido-nenhuma-das-duas-coisas, a famigerada piadinha desdenhosa do esporte betrão (dos onze homens e uma bola) caiu por terra.  Mas domingo ela ganhou uma nova releitura, quando o Botafogo começou a decidir a final contra o Rubinho Barrichelo das quatro linhas, contando com certa ajuda extracampo.

Voltemos a 1988. O Botafogo, 20 anos na fila, tenta a última cartada no carioca, o mesmo Vasco como adversário, Romário endiabrado dizendo "muito prazer" e uma gandula chorando ao fim da sova. Sim! Isso mesmo, Sonja -- a gandula ruiva -- chamou mais atenção naquela tarde do que o Avelino falador da língua presa e hoje parlamentar.

Vinte três anos depois, uma nova gandula-colírio (Sonja era uma menina eu sei, mas a revi uns 3 anos atrás) entra para história alvinegra. O lance todo mundo já deve ter visto e comentado. Há várias teses conspiratórias marxistas-freudianas-hegelianas, a favor e contra. Mas isso é pros fracos. Ou pros flamenguistas que estão de férias.

Eu vejo a coisa como um poema do Alberto Caeiro apenas atentando para o fato de que certas coisas se repetem no Botafogo. E dizendo aos vascaínos que afirmam que o embrólio  foi tão vergonhoso quantos as maracutaias euriquianas no bairro de São Cristovão, que não comprem a playboy da pequena Fernanda e, ao contrário, enviem cartas à redação pedindo o nu frontal do velho Miranda.

É isso aí. Vasco de Novo!

O sorriso de Fernanda