quarta-feira, 23 de maio de 2012

Futebol na novela: ou um pretexto para discutir o lugar do homem neste discurso


(Para quem não assite a novela e não sabe do que estou falando, meus sentimentos. Corram atrás como eu faço com os jogos de futebol que não vi e que vocês comentam. ) 
tentações ou simulacros

Mesmo quando seu time perde é possivel dizer que foi um bom jogo?

Pergunta que com certeza divide opiniões, está na base da complexidade do que se espera de uma partida: o processo ou o resultado. Mas de fato esta oposição não se sustenta, pois a felicidade maior consiste na equivalencia dos termos, ou seja: processo e resultado favoráveis.

Assim também com as novelas. Ouvimos dizer que o resultadode uma novela importa pouco, já que é sempre o mesmo. O diferencial seria o percurso. Mas estranhamente, também dizem que este é sempre o mesmo. E de fato muito autores conseguem esta, digamos, proeza, de fazer o mesmo de muitas e muitas formas iguais que parecem ser diferentes.

Porém Avenida Brasil, sendo novela e, portanto, seguindo determinados padrões de forma, tema e estereótipo, tem surpreendido pela inovação também nas formas, temas e estereótipos. É, por exemplo, um novela que desestrutura a relação costumeira do lugar da elite (um estereótipo de elite) e da população (com seus inumeráveis estereótipos) na trama, deslocando aqueles para o núcleo “comédia” que normalmente é atribuido a estes últimos. Ou seja, vemos no horário nobre que os “assuntos de elite” podem ser tratados como menores e pouco substanciais, como sempre se trata os assustos da não elite. Para isso acontecer basta... alguém QUERER. Porque, nos lembremos, novelas são escritas e a escrita é fruto de um desejo (seja ele pessoal ou coletivo) e não de uma natureza. As “verdades” que a novela diz não brotam nas árvores, mas do pensamento humano e seu desejo de manipular ideias.

Mas o que é que a novela tem a ver com o futebol, vocês devem estar, irados, se perguntando. Nesse caso a relação se dá justamente porque a novela  traz um núcleo inteiro de personagens envolvidos com a realidade do futebol (digamos assim, a realidade do futebol menos o jogo, rsrsrsrsr): jogadores, técnicos, empresários e... periguetes.

Este núcleo tem uma quantidade tão grande de personagens e universos que mereceria inumeráveis posts de análise, mas vou me limitar a um só personagem, um jogador de futebol, e sua relação com a sexualiadade através de outra personagem. Falo de Roni e Suelen.

A complexidade com que vem se tratando a maior parte dos persanoagens da trama consiste em não reduzi-los a dicotomias. A vantagem disso é que os personagens passam a abrir mais reflexões. Assim, se Roni nunca deu bola para Suelen, inclusive se constituído como opositor crítico às ações e abusos desta personagem, a meu ver, até então, era um traço bastante interssante. Não que eu me oponha ao personagem da periguete, ao contrário. Mas justamente porque este traço demonstrava um ponto dialógico da trama: dar voz à possibilidade de existirem homens com diferentes desejos. Tratava-se de pensar que a trama estava trabalhando com um lugar muito delicado da nossa cultura que é o masculino.

O masculino tem sido discutido sempre que a homossexulaidade vem em cena nas novelas, e nós vamos chegar lá. Mas queria antes pensar o lugar do homem heterosexual e na falta de problematização do seu desejo. O homem heterossexual da novela normalmente é intocado em relação às variações do seu sentir. Essa planificação do masculino é, em parte, reflexo e reafirmação de nosso machismo cultural. É ele que dita que homens precisam agir sempre da mesma forma que os outros para serem homens, como na velha e estereotipada frase “os homens são todos iguais”. O que deixa de ser discutido com isso é o fato de que não são.

Que exista o desejo por mulheres como a Suelen isso é absolutamente legítimo. Eu mesma seria muito menos capaz de deslegitimar a figura desta mulher que muitos homens heterosexuais dizem adorar, mas não sabem respeitar. Porém, que TODOS os homens tenham que amar esta mulher, pois essa é a única face da libido masculina, parece-me índice claro de que algo da complexidade e da sutileza se perdeu. Num país em que a defesa à diversidade sexual gera manisfestações desesperadas de “orgulho hétero”, talvez seja o caso de começarmos a pensar sim no heterosexual, mas na defesa à diversidade de desejos também para a heterossexualidade.

Voltando à novela, temos sim uma diversidade de caráteres masculinos: um Jorginho, que ama duas mulheres diferentes; ou um Cadinho, que ama três; um personagem que finge de doente para chantagear a mulher amada; outro que demonstra paixão verdadeira a uma mulher muito mais velha. É verdade, a variedade existe, mas a construção do personagem Roni dizia até então de um lgar totalmente marginal ao pensamento comum: um adulto que não manifestava qualquer sexualidade. Preservar este lugar era, a meu ver, uma riqueza no que tange à dar voz às diversidades. Ainda mais nesse núcleo do futebol; sendo este esporte, em nossa cultura, constantemente atrelado ao sexo e, sobretudo, à imagem padrão do “macho”.

Roni era, portanto, um jogador de futebol heterosexual que se diferenciava do padrão do machão. Mas é exatamente o padrão do machão que dita que todos os homens são iguais e que aqueles que são diferentes são gays. Esse padrão, claro, vê a homossexualidade de forma preconceituosa e desrespeitosa; mas gostaria que com este meu texto viéssemos a refletir que o discurso do machão (ou sua ideologia) também não admite a variedade dentro da heterosexualidade. Daí que a possivel “homossexualidade” de Roni tem seu lado negativo por impedir a realização de um personagem com sentires do masculino não padrão. Mas como a novela é boa e o é justamente por ser complexa, esta posssibilidade também será inovadora, pois nos permitirá discuitir o tabu da homossexualidade dos jogadores de futebol. Mas isso será assunto de outro post.


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