Quando a
realidade se impôs mais uma vez, pensei laconicamente: “o Botafogo me ensina
num domingo triste que os milagres não existem”.
E pensei em
escrever sobre esse sentimento de milagres, apesar de não ter religião que me
obrigue a crer ou descrer neles. Refletir sobre a esperança. E nesse querer fui
atropelada por um texto deste blog (“Esperança: a nova palavra que a democracia
e o Botafogo tornarão vazia”), também sobre a esperança, e meu próprio texto
ficou meio perdido diante da vontade de me opor a algumas questões levantadas
pelo outro que, como um bom adversário (já que falamos em futebol) gerou em
mim um jogo acirrado de ideias.
E então
veio este misto do que pensava comigo mesma e da vontade de dialogar:
Acho
complicada a aproximação tão rápida entre Hollande, Obama e Lula. Sei que o elo se faria através da esperança, mas me pareceu que ela se perdeu rápido demais e
se turvou no meio de qualificações como “nova esquerda sócio-democrata”,
“marketing político”, “pai dos pobres”. A coisa se complicou quando à imagem do
Loco se aproximou a ideia de “liberalismo de esquerda” e este retornou como um
eco daqueles três políticos brutalmente colocados num mesmo saco de gatos.
O que acho
é que a política, como o futebol, é campo aberto para discussões que se feitas muito
rapidamente acabam sendo descuidadas e deixam tudo aterrado, sem sutileza, sem
diferença e, principalmente, sem gosto e sem esperança.
Voltar então
a ela, esta palavra feminina, no meio da brutalidade do mundo tradicionalmente
tido como masculino do futebol e da política, faz estranhar. E pode mesmo nos
levar a crer que se tornará vazia.
Mas nem tanto. Pois o futebol e a política sempre comportaram a esperança com sua feminilidade de saber esperar diante do incerto, do não saber. Um povo com esperanças numa política, um povo que aposta em sua esperança, conta com o desejo e sabe também que é um voto lançado ao desconhecido do futuro. Situação que acomete também o torcedor.
E podemos
pensar que a esperança na política, manifesta pela atuação tão pequena da voz
ou do voto, em muito se assemelha à participação do torcedor, que grita e se contorce,
pela ação que outros executarão por ele. No mais tardar, podemos pensar, somos
tão pouco autônomos em relação ao que de fato fazem nossos políticos, quanto em
relação ao que faz o nosso time.
Sim, é um
modo de ver. Mas se é assim, podemos nos perguntar com razão, por que nos
importamos com futebol e com política. E diante desta nossa leitura de ambos, a
resposta é simples, porque somos idiotas. Ponto para a depressão, fim da
esperança.
Mas não,
mais uma vez fomos rápidos demais. Assolando tudo com generalizações
aterradoras. E daí, volto a minha vivência e ao desejo que tive de escrever
sobre a esperança – que não morreu, foi dormir - no domingo
passado.
Tenho
observado, pelo que sinto e vejo ao assistir jogos nos estádios ou nos bares: o
futebol não é um espetáculo fechado do qual somos impossibilitados de
participar. Torcer não é estar passivo, assistindo e nos submetendo enquanto o
outro joga por nós. Não, o futebol é o espetáculo em que somos ao mesmo tempo
torcedores e cada um dos jogadores do nosso time em ação. O futebol reacende
naquele que o vê os sentimentos mais ferozes da batalha – esta batalha que
assistimos sem nunca examinarmos conscientemente o quanto ela se assemelha com
nossa própria vida. O futebol enfurece como a batalha cotidiana enfurece. Mas
durante um jogo, como no espaço da arte, temos lugar para sermos tomados pelo
afeto que ele nos provoca, sem vergonha de estarmos entregues ao amor e ao ódio
que ele nos causa. A ação dos jogadores
nos permite, em suma, entrar num estado de experiência. Poder, sem
falsos pudores, estar inteiros ao que se apresenta a nós. E queremos tudo.
Queremos ganhar, mesmo sabendo que estamos diante do incerto e que a perda
existirá para alguém.
Sim, não há
milagre no futebol, como não há na política ou na vida, no sentido de que nem
todo o desejo ou toda competência podem ser suficientes para garantir a
conquista do melhor resultado. Porém, a incerteza do porvir não nos afasta do
vivido e isto de fato faz valer a pena. Porque o durante existiu e nós
existimos nele. Aqui não somos idiotas passivos, marionetes, mas sujeitos
dispostos ao prazer e aos perigos do jogo.
Queria escrever no domingo, mas não sabia o que seria escrito. O pensamento às vezes só toma a forma na escrita. O encontro com o texto do Thadeu, o desejo de me atritar ao texto dele, permitiu que este aqui se fizesse. E agora, lembrando que outros dias virão, incertos como sempre, disponíveis ao passe certeiro ou ao lance perdido, penso que o mesmo dia que permitiu ao botafogo apagar minha esperança no milagre (por algumas horas), permitiu ao galo – tão preto e branco quanto nós e com seu próprio histórico de sofrimento – reacender o coração atleticano, desta vez, invicto. Um mesmo dia, incerto e certeiro. A esperança, adormecida ou não, nunca será vazia.
Muito Bom texto. A mim, Lula se parece botafogo. Estrela, esperança, decepção e muitas crítcas de oposição. Gosto de esse equipo, desde que fui a engenhão ver "verón hijo" contra eles e la hincha se pareceu com estudiantes. Creio que esse blog tem que ter un viés político -porque essa e também a função de futebol - com bom textos como esse. E não outros texto cortos e vazios como otros que estão aqui.. Um Abraço, Javier Schiavonni
ResponderExcluirValeu Javier, seu sotaque argentino é perceptível em todas as palavras que disseste, cabrón. Obrigado!
ExcluirMuito maneiro o post!
ResponderExcluirA própria definição de idiota é aquele só olha pra si! e o seu contrario é o ser politico que participa da vida da comunidade!
Pequena entrevista com o filosofo Mario Sergio Cortella, sobre seu livro - Política: Para Não Ser Idiota. em que ele explica essa definição
http://www.youtube.com/watch?v=n9LM9SnXCLg
Post chato da porra! parei no meio.Falem de cachaça, ao invès de política. Mas como é uma rapariga que escreveu, não vou ofender. Pelo contrário vou mandar um xero!!
ResponderExcluirAlemão,
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=ck9XXlNViS4