Schweinsteiger, meio-campo do Bayern |
Burgess criou, ou simplesmente transpôs, para a narrativa uma série de gírias, chamada de língua Nadsat, que tornam incompreensível o entendimento às primeiras páginas, no entanto, como qualquer inserção em uma gíria nova, as costumazes repetições vão tornando as coisas palatáveis, e algumas daquelas palavras se não ganham um tradução direta, ganham um sentido do leitor para a compreensão da cena. Burguess utilizou muitas palavras de origem russa, já que, imagino, no início dos anos 60 (o livro foi lançado em 1962) a Rússia deveria representar o mais under do undergorund entre as grandes cidades da Europa. O Leste seduzia pela revolução e pela tosquice. Falar como um russo, e até mesmo copiar algumas coisas do vestuário e trejeitos, deveria ser foda (ou horrorshow, no dialeto), para um jovem inglês.
Mal sabia Burguess que em Londres, muitos anos depois, o seu dialeto poderia muito bem se tornar a língua oficial do Chelsea. Os blues (sim, eles tem esse genial apelido) foi retirado do ostracismo da Barclays para a final da Champions League. O dono do clube, Roman Abramovich, cuja fortuna é estimada pela Forbes em US$ 14,1 bilhões, também é o dono do CSKA Moscow e do castelo do Conde Drácula, na Romênia. Mais de € 760 milhões foram investidos pelo magnata russo em cinco anos, ele é o mais rico residente de Londres, desde que chegou. Bem, agora sabe-se quanto custa levar um time médio para a final da Liga.
Acontece que índole de Abramovich, assim como a de Alex, Peter e Tosko, é digna de uma lavagem mental. Além do boato de ser ele o homem por trás da Media Sports Investiment, a MSI, sediada em Londres, que trouxe Tevez, Mascherano e o título de campeão brasileiro de 2005 ao Corinthians, o dono do Chelsea é acusado de ter subornado dirigentes soviéticos durante as privatizações das companhias de minério para obter facilidade de compra e operação (e acho que isso foi tão comum que nem é considerado crime pelas agencias internacionais de vigilância), como também de ter traficado diamante de Angola e do desvio de US$ 4,8 bilhões (!) de um empréstimo que o FMI fez à Rússia durante o governo Ieltsen. O que nos leva a crer que o principal clube do futebol inglês hoje teve seu sucesso bancado por um dos maiores filho da puta da economia mundial. A Barclays deveria se envergonhar.
Após a Premier League 2011-2012 ter sido vencida pelo Manchester City, um time bancado pelo Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, fica aqui a pergunta que inicia a laranja de Burguess e acredito que será a primeira coisa que, amanhã, Bastian Schweinsteiger --- vestido de branco, com um chapéu de Chaplin e maquiagem no olhos ---, direcionando seu ódio aos cartolas, falará em campo:
What’s it going to be then, eh?
Muito bem, Abramovich, é em Munique que você vai dormir.
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*drugui = amigo
cara, nessa ressaca vespertina fico emocionado com a nossa maturidade intelectual. Lembro quando vc me viu com livro de poesia concreta russa e decretou: de tanto insitir você virou um cult. Pois vendo este texto outorgo: não sei se pela persistência, mas, de fato, és um intelectual.
ResponderExcluirJoão Martins
obrigado meu caro, senti estima pela conjugação na segunda pessoa
ExcluirConcreta és isso. falaste a palavra chave para saber de donde vinha esse dialeto próximo do russo, falado por alex em Laranja. Mas por suposto o concreto não é, nesse caso, mais um manifesto, e, sim, uma fracasso. O fracasso de russia que também é dos EUA e de qualquer sociedade. É de isto que fala Laranja. Ao contrário de Huxley ou Orwell, não é só falencia de modelo A ou Modelo B. É falencia de espécie. Una especie de pele alaranjada- com a possibilidade de respirar pelo sonho ou pela loucura - mas de natureza mecânia, dependente dos vícios já desde o leite e violenta como Alex ou como Beethoven
ResponderExcluirSchiavonni
Não bastasse isso, chelsea ainda é uma das regiões mais ricas de londres, assim como seus torcedores e jogando um futebol retranqueiro.
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